segunda-feira, 31 de agosto de 2015

A carapaça




Todos nós temos uma espécie de carapaça, mais dura, mais espessa ou mais frágil mas todos a temos.
Há quem a use constantemente, há quem a use com habilidade sempre que necessita com uma confiança que mete inveja e quem simplesmente só a consiga usar em modo de sobrevivência.
Quem a usa constantemente impede-se a si próprio de viver e experienciar a vida como um todo, pois nunca baixa a guarda, nunca deixa ninguém conhece-lo verdadeiramente, nunca sofre verdadeiramente mas também não partilha e não ama com a profundidade e intensidade características do amor.
Quem usa a sua carapaça com inteligência e raciocínio são as pessoas mais felizes, as ponderadas, as equilibradas que conseguem discernir quando devem baixar as defesas e quando devem construir um muro à sua volta.
As que só conseguem erguer a carapaça quando é uma questão de sobrevivência, são sem dúvida as que experienciam mais, as que sentem mais, as que vivem mais intensamente mas também as que sofrem mais como consequência.
Não se consegue ter o melhor dois mundos, não há amor verdadeiro e profundo sem sofrimento, sem medo, sem o terror de perder a pessoa amada ou o receio de os dias, os meses e os anos não serem suficientes para viver ao seu lado.
Quando a carapaça nos cresce nas costas quase que parece sem aviso, de repente mudamos de atitude, ficamos frios, insensíveis, impenetráveis dentro de um muro transparente que não há nada que derrube.
Quando nos apercebemos já estamos encerrados na numa redoma de vidro que mais parece aço, frio e inquebrável.
Forçar a armadura apenas a tornará mais forte e resistente, só com tempo e com o silêncio as coisas voltarão ao seu estado normal e carapaça tornar-se-á menos espessa, mais maleável e acabará por desaparecer.
Algumas coisas só se curam com o tempo, não há outro tipo de remédio por mais doce que seja que consiga adoçar o fel que nos levou a colocar a couraça dura. Paciência, introspeção e análise são o caminho para a retirar. Sem pressas ou urgências, temos de deixa-la sair lentamente para que voltemos a estar em sintonia com um mundo, para que nos voltemos a sentir seguros fora da nossa redoma e possamos novamente viver sem prisões e sem amarras.

3 comentários:

  1. Um pouco confuso o que li mas a partir do momento em que criamos diversos muros ou carapaças, ficamos completamente parados no tempo, na sua prosperidade e em todas as áreas da vida.

    Partilhar, ouvir e não guardar – A vida tendeu a mostrar-me que nem sempre é certo guardar-mos tudo para nós, sobretudo quando falamos numa relação. Para criar uma relação é necessário existir uma partilha de informações, seja esta de que nível for. Só partilhando algo de nós, intimo ou não é que podemos esperar algo em troca da outra pessoa. Por certo quanto mais partilhar-mos mais a outra pessoa se sentiria à vontade para fazer o mesmo. Ao ser honesto com o outro irá criar um sentimento de confiança e fazer com que este o seja igualmente consigo. Neste processo é importante que também saibam ouvir a outra pessoa. Ninguém gosta de falar sozinho e de ter alguém que não é capaz de ouvir o que este tem para partilhar.

    Ser capaz de confiar e estar aberto a isso – É impossível querer-mos criar confiança e não estarmos abertos ou recetivos para a criar-mos. Por vezes as experiências passadas tornam o nosso presente mais difícil e mais difícil confiar nas pessoas. Mas neste mundo todas as pessoas são diferentes e mesmo não querendo podemos estar a criar uma barreira invisível à pessoa certa. Quanto mais se mostrar aberto à ideia de confiar na outra pessoa mais essa pessoa irá mostrar de si e mais confiante se irá sentir. No que toca a conseguir confiar e por mais que seja difícil temos de pensar que cada caso é um caso e que cada pessoa merece uma atenção diferente da nossa parte.

    Confiar em si própria – Um grande entrave é não confiar-mos em nós próprios. Falta de auto-estima talvez. Mas por vezes esquecemos que se partilhamos companhia com alguém é porque essa pessoa de certa forma vê algo em nós que lhe incita a querer repetir a experiência. O problema da maior parte das mulheres é o sentimento de inferioridade, algo que também acontece no mundo dos homens. Por vezes perde mais tempo a inferiorizar-se e a lutar contra um aumento de auto-estima do que a abrir os olhos e ver que aquela pessoa mesmo à sua frente gosta dos seus atributos e preocupa-se com o que pensa. Confie em si, e nos seus instintos e estará pronta e mais confiante para combater as adversidades que possam surgir.

    Não esqueça procure pensar nelas no dia a dia, avaliando cada situação. É certo que cada situação é uma situação e que falar ou escrever é mais fácil de concretizar, mas para além de palavras temos de ser capazes de as transpor para uma realidade em que pretendemos ser felizes!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O texto não tem a ver com partilha, confiança ou autoestima, tem a ver com proteção, introspeção e cura.
      Tal como disse não pode haver o melhor de dois mundos, ou se baixa a guarda e vive-se intensamente ou apenas se vive pela metade.
      Isso não invalida que quando necessário nos centremos em nós e busquemos as nossas soluções.
      O melhor caminho para sermos felizes é conhecermo-nos a nós próprios e às vezes para isso é necessário recolher ao silêncio, à contemplação do eu para depois abraçarmos o outro com mais certezas, com mais força e com ainda mais amor.

      Eliminar
    2. O tempo cura tudo, se não curar... ameniza, transforma, dilui... boa introspeção...

      Eliminar