terça-feira, 9 de junho de 2015

"As mulheres portuguesas são parvas"



Este é o título da crónica de Maria FilomenaMónica no jornal Público e eu não poderia concordar mais com o título e com o todo o texto.
As mulheres portuguesas são parvas porque continuam a achar que é sua obrigação tomar conta da casa e de todos os seus afazeres.
Maria Filomena Mónica resume tudo na frase:

 “De certa forma, o destino das raparigas na casa dos trinta ou quarenta anos corre o risco de ser pior do que o meu. Quando casei, o que de mim se esperava, além da procriação continuada, era que passasse o dia a arrumar a casa, a cozinhar pratos requintados e a vigiar a despensa. Hoje, a estas tarefas vieram juntar-se outras. As mulheres modernas são também supostas ser boas na cama, profissionais competentes e estrelas nos salões. Mas isto é uma utopia.”

Hoje em dia espera-se tudo das mulheres, basicamente o que se espera é a perfeição, é ter tempo para tudo e ser boa em tudo e quando não somos quem é que mais nos ataca? As outras mulheres.
Eu tento, eu juro que tenho ser boa em tudo.
Tento ter a casa em ordem, arrumo, limpo e organizo tudo da melhor forma, mas tento sempre faze-lo durante a semana à noite para ter os fins-de-semana livres, mas é claro que não consigo manter uma casa impecável com as horas que lhe dedico, acaba sempre por falhar uma coisa ou outra e volta e meia lá ouço o homem reclamar que o interior de uma gaveta já tem pó.
As roupas para mim são um dilema detesto passar a ferro e arrumar a roupa, a verdade é que não gosto de tarefas rotineiras e dessas esta é que menos gosto.
Trabalho 8 horas por dia e tenho a sorte de raramente ter de trabalhar fora de horas, consigo normalmente gerir o tempo de forma a trabalhar apenas as 8h diárias e consigo ter o meu trabalho em dia. Mas para além do meu trabalho de 8 horas tenho outros projetos, uma loja online, algumas páginas para gerir e este escape, já que criei o blog mesmo para extravasar mas acaba por me tomar algum tempo.
A verdade é que mesmo que pudesse não conseguiria ser dona de casa, não me sentiria realizada.
Trabalho no que gosto, mas poderia ter um emprego melhor se estivesse disposta a arriscar mais e a dedicar-me mais horas a um emprego, mas como tenho outras prioridades e gosto do que faço, por enquanto, não penso em mudar.
Em casa sou responsável por todas as compras do supermercado, gestão da dispensa, gestão dos menus e execução dos mesmos. É raro o meu marido cozinhar, somente quando não posso ou porque quer mesmo ser ele a fazer algo como omeletes que ele faz melhor do que eu.
Considero-me uma boa cozinheira e gosto bastante de inovar na cozinha, cozinhar dá-me prazer mas só em certas situações. Não me importo de passar 3h na cozinha para preparar um jantar requintado para um grupo de amigos, mas no dia-a-dia fazer uma refeição simples de 30m pode deixar-me infeliz. Às vezes olho para o sofá, normalmente ocupado pelo marido, e penso que bem que me sabia estender-me ali e só ser chamada na hora de jantar.
Outras vezes estou só tão cansada que nem me apetece comer quanto mais fazer.
Normalmente arrumo à quarta-feira, às quintas corro e nas sextas à ida para casa passo pelo supermercado para fazer as compras semanais.
O que me irrita quando me esqueço de alguma coisa, normalmente digo, que mxxxa esqueci-me de comprar ovos! Qual a resposta do marido? - Até parece que custa muito fazer uma lista? Só compras o que está em promoção!
Prefiro que ele não me ajude a arrumar as compras porque quando o faz gosta de fazer uma ronda pela dispensa para verificar o que está fora de validade, para perguntar porque raio tenho 3 embalagens de qualquer coisa que nunca usei ou porque comprei morangos se eles se estragam sempre?
Às vezes parece que o meu inconsciente me pede para comprar morangos só para o chatear! Já que no supermercado tenho sempre vontade de os comer e depois em casa passam-me ao lado.
E as ementas? Bem as ementas confesso para mim são um terror, ter de estar sempre a pensar no que vou fazer chateia-me. Podia fazer um plano? Podia, claro que podia, mas depois tinha-me de me cingir a isso e não fazer a gestão do dinheiro conforme o que está com 50% de desconto. Desde que casei as coisas aumentaram 50%, gasto mais ou menos o mesmo em mercearia, ora não é difícil de fazer a conta para gastar o mesmo sem cortar tenho de comprar as coisas a metade do preço.
Já disse que tento ter os fins-de-semana livres de tarefas domésticas? Já, inclusive compras que homem abomina supermercados. Esse sítio onde se perde imenso tempo e onde se apanha uma valente seca.
Mas depois ao sábado é preciso sempre fazer alguma coisa ou no jardim ou nas varandas ou porque está sol e tenho de aproveitara para secar a roupa… A verdade é quando chego a sábado sem nada para fazer raramente me apetece fazer alguma coisa porque depois estou demasiado cansada para sair do sofá.
Mas há que ter sempre vontade de fazer programas giros e convém ter ideias para os mesmos, já que eu na adolescência tinha sempre grandes ideias mas ultimamente gasto a criatividade noutras coisas (nos menus por exemplo). Pergunta-me ele assim com ar triste não sabes o que fazer hoje de tarde? Respondo eu ainda mais triste – Não tenho ideias! (Na verdade, muitas das vezes o que queria era sentar-me no sofá a comer pipocas e ver um filme sem ser interrompida.)
E cuidar de mim? Bem outro drama porque ou se gasta uma fortuna em cabeleireiro ou esteticista ou então tem de se perder tempo em casa. Tempo que poderia ser aproveitado para muita coisa, sim eu sei, mas só existem duas opções gastar dinheiro ou gastar tempo.
Demoro uma eternidade no WC, claro tenho o cabelo pelo meio das costas, nem pensar em cortar muito porque ele não gosta, mas quer que eu tome banho e esteja pronta em 10m para sair. Já consigo fazer essa proeza em 20m mas fico num estado de nervos.
Para não falar que depois de um dia cheio não me apetece muito aperaltar-me toda para sair, vestir um vestido e calçar uns sapatos de 10cm. Ah as mulheres ficam tão bem de vestido! Pois ficam mas primeiro é preciso comprares os vestidos e depois é preciso estares com vontade de os usares.
Voltando às ementas que é um ponto importante lá em casa. O jantar hoje não está grande coisa, o arroz está duro, a carne não presta, este frango não está bem temperado… Depois de ter aprendido a cozinhar mais como a mãe dele do que como a minha (ambas cozinham muitíssimo bem) demorei pelo menos 3 anos a faze-lo esquecer os temperos da mãe para se habituar aos meus, mas mesmo assim às vezes ainda aparece uma nota ou outra dos pratos que a mãe cozinha.
- Ah na cozinha é preciso amor e dedicação, só assim as coisas saem bem. Costuma ela dizer. Experimenta ter amor e dedicação depois de um dia de trabalho, das pessoas mal-educadas que ouviste ao telefone e da falta de civismo no trânsito…
Mas o que me irrita mesmo é ter de ter a dispensa recheada de coisas boas, acompanha-lo nos petiscos e de preferência saber prepara-los, mas ter que ouvir se queres emagrecer tens de cortar à boca. Mas ele acha que se eu começar a fazer dieta ele não começa também? E acha que se eu estiver de dieta vou ter 10 variedades de bolachas na dispensa?
E acha que as pessoas que passam a vida com restrições alimentares são felizes? Não, não são especialmente se gostarem de comer. Ter em casa uma top model que come o que lhe apetece é quase impossível.
E depois, e depois claro é preciso ter a disposição sexual de uma ninfomaníaca que se vier acompanhada do contorcionismo de uma ginasta e a sensualidade de uma stripper profissional melhor ainda. Não interessa nada que uma pessoa tenha 1001 coisas na cabeça, o que interessa é estar disponível. Não que tenha problemas com isso, felizmente estou sempre disponível ou quase sempre mas acredito que muitas mulheres não sejam assim.
Depois há a cultura, sim temos de saber falar de tudo e sobre tudo e temos de ser inteligentes porque os homens não gostam de mulheres burras, mesmo quando o meu cérebro está a 30% tenho se ser intelectualmente superior.
Antes de casarmos assumi que me encarregava das tarefas da casa, arrependo-me tanto dessa decisão…
Sempre que sou eu a tratar de tudo em casa sinto-me a trair os meus ideais mas sempre que reclamo sinto que estou a reclamar de uma situação com a qual concordei.
E o pior de tudo, é que se não tenho a casa em ordem, as roupas em ordem e se eu não estou em ordem sou a primeira pessoa a culpar-me, a tentar arranjar soluções para colocar tudo em ordem para não haver lugar a discórdias e discussões.
Pior é apanhar-me a criticar algumas mulheres que não conseguem ter tudo em ordem. Mas como é que eu me tornei tão parva? Quando me tornei tão parva? Algures no noivado.
Quando a discussão estala o homem diz-me que toma outras responsabilidades como tratar dos carros, não sei é quando! Já que o meu carro não toma banho há mais de um ano e preciso de trocar por um novo e ele ainda não me apareceu à porta. Ele bem que procura e me mostra mas ele acha mesmo que tenho conhecimentos para decidir isso? Enfim lá terei de ser a decidir porque se for mau negócio depois ele iria ter de levar com as minhas reclamações.
Depois existem as outras tarefas, cortar a relva (só nos meses quentes), trocar as lâmpadas (acho que devem fundir no máximo duas lâmpadas por ano), fazer pequenos reparos (menos de 1 por mês). Até há bem pouco tempo encarregava-se de sacar séries e filmes mas agora até isso às vezes passa para mim.
Ah já me esquecia faz-me o pequeno-almoço durante a semana, é de louvar assim posso ficar mais 10m na cama e eu sou muito preguiçosa para me levantar.
E é muito bom marido já que prefere sempre a minha companhia à dos amigos e raramente saí sem mim, se há coisa que o meu marido é, é inteligente e como tal sabe que quando saem só homens a conversa é sempre a mesma e não se aprende nada e o homem, como já devem ter percebido, gosta pouco de perder tempo.
Às vezes tenho vontade de me transformar um robot e fazer tudo perfeitinho, mas depois desce em mim uma displicência que só me apetece fazer o contrário.
Espirito de contrariedade, sempre tive, quanto mais ele reclama menos eu faço. Se me elogiasse se calhar tinha mais sorte! Se calhar o jantar passava a ser sempre fantástico. Mas o problema é que posso preparar-lhe o melhor jantar que consiga mas será muito difícil ele não lhe encontrar um defeito.
O que me conforta? Caramba o homem é tão exigente que para estar comigo eu mesmo com todas as falhas devo ser muito boa em alguma coisa. Só que ele esquece-se de me dizer em quê.
Tudo isto para dizer que mudam-se os tempos mas as coisas verdadeiramente estão iguais, já que a maioria dos casos de divórcios e separações que conheço são por dois motivos falta de dinheiro e reclamação de igualdade por parte das mulheres. Felizmente as mulheres agora têm independência financeira e não precisam de ser escravas domésticas, sexuais e intelectuais.


PS. O meu marido é uma excelente pessoa, carinhoso, preocupado e atencioso o único defeito que tem é mesmo acreditar as obrigações domésticas pertencem à mulher, mas a culpa não exclusiva dele, é da mãe que apesar de lhe ter transmitido que as mulheres devem ser tratadas com todo o respeito se esqueceu de lhe explicar que esse respeito se estende à divisão de tarefas. A culpa é também minha que compactuo com ele e ainda mais minha quando quero ser eu a fazer tudo e tenho receio de lhe pedir ajuda. Porque passo a vida a tentar ser perfeita quando não levo jeito nenhum para o ser.

4 comentários:

  1. Woow não poderia estar mais de acordo!

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  2. Ninguém é perfeito! E embora ainda viva na casa dos meus pais entendo bem todo este texto. A minha mãe sempre foi "escrava" da casa, o meu pai não faz nada de nada em casa a não ser desarrumar... Eu tento ajudar nas lides domesticas, mas ela trata de tudo que é roupa e alimentação! Sei o que lhe deve custar fazer o mesmo dia sim dia sim. Quero viver com o meu A., mas sei que não serei essa mulher "perfeita", as tarefas terão de ser divididas de inicio, para ninguém se habituar mal, e é esperar que resulte. As coisas mudam se as mulheres mudarem e não deixarem de tentar ser tudo de bom ao mesmo tempo...

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    1. A questão é mesmo essa têm de ser as mulheres a mudar, mas quando menos se espera são as próprias a recriminarem-se. Não é fácil.
      Sim defini isso desde o início para não teres problemas mais tarde.

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