Já não posso ouvir coisas como:
- Sou frontal, digo o que penso.
- Sou assim quem não gostar que ponha na beira do prato.
- Digo sempre aquilo que penso.
- Visto o que me apetece e ninguém tem nada a ver com isso.
- Ninguém tem nada a ver com o que faço ou deixo de fazer.
- Na minha vida mando eu.
E mais um rol de outros comentários que até podem fazer
muito sentido, mas quando não são ditos a toda a hora e usados para tentar
encerrar discussões, especialmente aquelas em que se encontram a perder são
simplesmente aborrecidos.
Estamos num tempo em que as pessoas dizem o que querem tal
como vestem o querem, sem pensarem nas consequências. Se o vestir raramente tem
consequências para terceiros, já o quem dizem é mais grave.
Ter o coração perto da boca, ao contrário do que se possa
pensar, não é uma coisa boa. Temos dois ouvidos, uma boca e um cérebro e
devemos usar o cérebro antes de abrirmos a boca, se o fizermos poupamo-nos a
bastantes dissabores.
Quem nunca disse nada que imediatamente se arrependeu que
atire a primeira pedra. Eu abro muitas vezes a boca sem pensar e isso já me
custou até um emprego. Digamos que insultar a inteligência do chefe não é uma
ação inteligente, é o que dá falar sem pensar.
Normalmente não sou muito explosiva a não ser nas seguintes
situações:
- Injustiças: não suporto qualquer tipo de injustiça, desde
julgar alguém pelas aparências a maltratar alguém só porque sim, promover
alguém porque é graxa, tratar alguém mal só porque se tem inveja dessa pessoa,
a lista é extensa, mas de todas a que me tira mais do sério é ver alguém que
não recebe qualquer punição por ser mau, quando alguém é recompensado por seu
mau então dá-me vontade de esbofetear toda a gente.
- Incoerências e incongruências: odeio pessoas que não se
julgam pela mesma bitola com que julgam os outros. E vai desde as pequenas
coisas às maiores, mas as pequenas coisas são as que me tiram do sério. Não posso
com quem faz uma tempestade num copo de água porque um alfinete que está fora
do sítio e que depois deixa alfinetes por todo lado.
- Burrice: não suporto pessoas burras de forma geral,
fazem-me urticária, mas no trabalho a coisa toma proporções astronómicas já que
odeio incompetência.
- Preconceito: odeio
pessoas racistas, xenófobas e afins, acho-as imbecis, as racistas porque se a
cor da pele é apenas uma consequência do clima onde se vive ou de onde viviam
os nossos antepassados, as xenófobas porque a diversidade cultural é a maior
riqueza deste mundo.
Com o tempo aprendi a ter mais calma, especialmente em
contexto de trabalho, mas mesmo assim muitas vezes, especialmente nos dias em
que tenho TPM, digo coisas sem pensar e de rompante.
Se por um quem diz a verdade não merece castigo, por outro
levar isto ao extremo pode causar um problema grave.
Não existe nada de mal em expressarmos a nossa opinião mas
de forma educada, explicita e de preferência sem ferir suscetibilidades. Mas quem
o faz? Quase ninguém. Já que se apregoa aos 4 ventos o direito à opinião e à liberdade
de expressão. E a tendência é confundir opinião com falta de educação e insulto
gratuito.
E pior confundir educação com hipocrisia e diplomacia.
É por isso que é cada vez mais difícil mantermos relações
duradouras quer amorosas quer de amizade, quando toda a gente diz o que pensa
sem filtro e quando toda a gente apregoa que não tem paciência para aturar os
outros, quando a regra é eu sou como sou e quem não gosta não come, quando ninguém
faz fretes… está visto que o resultado é só um - pessoas egoístas e egocêntricas
a conviverem com outras quantas egoístas e egocêntricas que não chegam a um meio-termo
de tolerância.
Ou seja das duas três:
- Ou temos a sorte de encontramos pessoas que pensam
exatamente como nós acerca quase de tudo.
- Ou temos a sorte de encontramos pessoas equilibradas e com
bom senso, uma raridade.
- Ou optamos por ter uma atitude mais passiva, encaramos o
papel de mediadores, o que sejamos francos não agoura grandes resultados a não
ser que estejamos rodeados de pessoas também elas mediadoras.
Mas o que me irrita ainda mais do que os frontais, ainda
mais do que os mal-educados?
Os que não dizem as coisas na cara mas se movimentam na
penumbra como ratos e cobras, a minarem as relações, os que levam e trazem e
falam mal de tudo e de todos pelas costas e são uns anjos pela frente.
Só pessoas muito boas, muito altruístas e muito descontraídas
encaram sempre as coisas na boa, na maioria das vezes aquelas pessoas para as
quais parece estar tudo bem são as piores, não dizem o que pensam e são venenosas.
Muitas vezes afastam-se e afastam outras pessoas de nós quando não lhes fazemos
as vontadinhas todas, já que gostam de ter protagonismo e não gostam que lhes
afrontem a opinião.
O maior problema é que estas pessoas geralmente são
confundidas com as pessoas que realmente levam a vida na boa e têm uma atitude
positiva em relação a tudo e podem mesmo enganarem-nos durante anos sem que percebamos
que por detrás dos carneirinhos estão realmente raposas matreiras e hienas.
Ou seja é quase impossível nos dias de hoje manter uma
amizade porque há de facto pouca gente que nos inspire amizade. Se têm pessoas
que valem a pena nas vossas vidas não as deixem escapar, poderão não ser a mais
divertidas, as mais bonitas, as mais populares, mas se são sinceras, não vos trocam
por um programa melhor e não dizendo ámen a tudo são frontais com educação e inteligência,
essas pessoas merecem a vossa estima eterna.
Sempre admirei aquelas pessoas que ouvem mais do falam e que
só falam quando têm algo importante e acertado a dizer, que se colocam de parte
de mexericos e preferem falar de coisas sérias em vez de se fartarem de rir com
coisas pouco uteis.
Bom humor e descontração são coisas boas sempre que não se
cai no exagero. Ridiculizar os outros também não é uma forma de humor
inteligente é simplesmente estupido.
Por vezes deixamo-nos iludir com algumas pessoas que parecem
umas “fixes” a experiência ensina-me prudência mas é mais fácil acreditar que
realmente existem pessoas espetaculares.
Desenganem-se a maioria das pessoas não é espetacular, nem
sequer é boa. Numa época em que os valores estão todos alterados e a ética é
paisagem, as boas pessoas contam-se pelos dedos já que a integridade e retidão
são valores em vias severas de extinção.
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